quinta-feira, 16 de outubro de 2014

ROCK DE GALPAO - VOLUME 2 - AO VIVO NAS MISSOES

Toca um rock, tchê

Projeto "Rock de Galpão II" faz show com versões pop para clássicos regionalistas

Apresentação marca o lançamento do CD e do DVD gravado nas Missões; confira comentários do diretor artístico, Hique Gomez

16/10/2014 | 08h02
Projeto "Rock de Galpão II" faz show com versões pop para clássicos regionalistas Eduardo Rocha/Divulgação
A banda Estado das Coisas gravou o DVD Rock de Galpão II na região das Missões Foto: Eduardo Rocha / Divulgação
O show do projeto Rock de Galpão inicia mansinho com uma conversa entre um acordeom e uma guitarra, mas logo pega fogo com a entrada de bateria, teclado e baixo. É o anúncio de que o público fará parte de um encontro entre música gauchesca e rock 'n' roll, cortesia da banda Estado das Coisas e de seus convidados. Hoje, a charla será às 21h, no Salão de Atos da UFRGS: é o lançamento do DVD Rock de Galpão ao Vivo – Volume II: Missões.
O espetáculo reedita o show apresentado em abril em Santo Ângelo diante da Catedral Angelopolitana. A função foi registrada em um CD e um DVD que inclui breves documentários sobre os bastidores. No palco, estarão os mesmos convidados: Neto Fagundes, Elton Saldanha, Hique Gomez, Diablo Jr. e Reppolho. Só vai faltar Mário Barbará. Nas paredes, projeções mapeadas das ruínas de São Miguel das Missões.
Na proposta da banda, clássicos do tradicionalismo como Milonga para as Missões, Recuerdos da 28, Desgarrados e Canto dos Livres ganham novos arranjos, costurados por guitarras distorcidas que vêm muito do rock, mas também pendem para o reggae, o funk e o pop. A mistura tem até conceito: "hiperpampa". Cunhado por Hique Gomez, diretor artístico do espetáculo e do show, o termo expressa uma música regional que se abre para o universal, resgatando o passado com olhos no futuro. É esta a principal diferença entre os dois volumes do projeto: o segundo está mais global, e parte disso se deve à sonoridade nordestina do percussionista Reppolho, pernambucano que por anos tocou com Gilberto Gil.
– O Rafa Schuler (guitarra) e o Gustavo Viegas (contrabaixo) foram criados no rockabilly, de Elvis Presley a Stray Cats. O Paulinho Cardoso é um gaiteiro world music. O Guilherme Gul (bateria) gosta de reggae, é fã de The Police. O Alexandre Gaiga (teclado) gosta de Supertramp e Yes. Eu sou nativista, mas gosto de Beatles, bossa nova, tango... Ah, eu e o Rafa somos apaixonados por AC/DC! O Hique Gomez pega essa loucura e faz com que soe como uma coisa nova – explica o vocalista e guitarrista Tiago Ferraz.
A banda Estado das Coisas surgiu em 1993, na região das Missões. Dos shows que o grupo fazia com Neto Fagundes surgiu a ideia para Rock de Galpão, que virou álbum em 2007. Hique Gomez uniu-se ao projeto para o primeiro DVD, de 2010, e mais uma centena de apresentações pelo Estado.
Rock de Galpão ao vivo – Volume II: Missões
Quinta-feira, às 21h, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110). Fone: (51) 3308-3058.
Classificação: livre.
Duração: 120 minutos aproximadamente.
Ingressos: R$ 20 (plateia alta) e R$ 40 (plateia baixa), com desconto de 50% para estudantes, idosos e Clube do Assinante ZH. À venda nas lojas Multisom (Rua dos Andradas, Shopping Praia de Belas, Shopping Total, Shopping Moinhos de Vento, Shopping Iguatemi e Bourbon Shopping Ipiranga).
Próximos shows da turnê: Ijuí (sábado), Santo Ângelo (domingo), Santa Rosa (segunda), Canela (terça e quarta) e Porto Alegre (pocket shows nos dias 23 e 24/10).
A pedido de ZH, o diretor artístico do projeto, Hique Gomez, comenta cada uma das músicas do álbum Rock de Galpão – Volume II: Nas Missões:
Milonga para as Missões (Gilberto Monteiro)
"Já de início, uma viagem pelo hiperespaço. Logo, a zabumba do mestre Reppolho localiza o ouvinte dizendo que estamos no Brasil. As guitarras entram no sistema dizendo que estamos no século 21. Poderia ser uma banda celta pós-moderna, mas é só uma tribo no Hiperpampa reverenciando seu passado."
Recuerdos da 28 (Knelmo Alves / Francisco Alves)
"Uma pérola da 10ª Califórnia da Canção Nativa, de 1980. Tem sua introdução integralmente preservada, mas tocada por Rafa Schuler na sua guitarra hiperturbinada como uma homenagem a Angus Young, guitarrista do AC/DC. Aliás, Angus é uma raça bovina. Não há coincidências no Hiperpampa."
Gaudêncio Sete Luas (Luiz Coronel / Marco Aurélio Vasconcellos)
"Luiz Coronel nos disse que não fizemos uma reinterpretação dessa canção, mas sim, uma reinvenção do clássico. Se você pode reinventar uma música, você pode reinventar a vida toda. Só pra lembrar: houve um espetáculo longevo aqui, cheio de reinvenções..."
Los Hermanos (Atahualpa Yupanqui)
"Poema absoluto de Atahualpa. Declaração de fraternidade dos povos latino-americanos, na voz legítima do missioneiro Tiago Ferraz. Nas imagens do DVD podemos ver: a Catedral Angelopolitana recebe, pela primeira vez na história, a mandala ancestral dos Guaranis, projetada em sua face. Este momento foi parar na capa do DVD."
Prenda Minha (Telmo de Lima Freitas)
"Aqui o Hiperpampa se expande até o mercado de Tanger, no Marrocos, e encontra Bebeto Alves fazendo uma milonga mourisca com um cigano da Andaluzia. O Derbake árabe do Guilherme Gul introduz a milonga e a banda avança alguns anos no futuro. 'Abre o poncho desta alma prenda minha'... poema de alto calibre do artista que me deu um violino ainda antes de eu encontrar o Nico Nicolaiewsky. Profeta? Nada disso! Foi só intuição e poesia."
Desgarrados (Mário Barbará / Sérgio Napp)
"A gaita introduz em clima de ninar a saga lúdica dos meninos de rua em Porto Alegre. Mas a banda confirma num hard rock implacável que a vida é dura para quem mora nas 'pedras' da cidade."
Romance do Pala Velho (Noel Guarany)
"Quem tem um pala velho sabe do que Noel Guarany está falando. Eu tenho um. Um pala que discute taco a taco com a minha mulher. Um amigo que não me deixa na mão no inverno."
Cordas de Espinho (Luiz Coronel / Marco Aurélio Vasconcellos)
"Outro clássico da música brasileira reinventado. Outra milonga com ares de oriente médio. Derbake e arabescos. Durante minha participação ao violino, fui tomado pelo espírito de um Quero-quero louco. Peço desculpa aos amigos por tudo o que ele disse... mas era tudo verdade."
Entrando no M'bororé (Elton Saldanha)
"Ninguém vê o Rio Grande mais bonito do que Elton Saldanha. O mistério futurista na guitarra e nos teclados de Alexandre Kó, 'o Vitor (penso sempre que é o Ramil) entrando no M'Bororé... lá vem o Rio Grande a cavalo...' e o baixo de Gustavo Viegas confirmam as frequências sólidas para o 'dub' que se instala numa conversa de boas palavras com Xote, Reggae, BlackBagualNegovéio (Alô Bebeto!)."
Paraíso Perdido (Jayme Caetano Braun)
"Aqui temos o que é sagrado: a Palavra! Jayme Caetano Braun é um dos maiores bardos brasileiros. Só um legítimo payador como Tiago Ferraz é capaz de fazer com que a payada aconteça como uma novela, na tela de imagem da imaginação do ouvinte. Aqui, sob um céu de heavy metal, a história bíblica fica melhor explicada."
Canto dos Livres (Cenair Maicá)
"A voz de Neto Fagundes legitima a fundação do projeto Rock de Galpão. Nos versos de Atahualpa: 'Y una hermana muy hermosa que se llama libertad...' Nos versos de Cenair Maicá, o Canto dos Livres é a reafirmação do ideal de fraternidade dos povos latino-americanos. Nas Missões Guaraníticas as fronteiras ainda não estavam plenamente demarcadas. E no Hiperpampa nunca haverá fronteiras.
Couro Cru (Mário Barbará / Aparício Silva Rillo)
"Minha preferida! Os versos de Aparício Silva Rillo embalados num instrumental progressivo. E um refrão de chacareira sustentado a golpes do tambor de maracatu de mestre Reppolho, junto com o bomboleguero. É o encontro das tribos do norte com as tribos do Sul. A cobra mordeu o rabo. O Brasil Visceral que a Carla Joner pesquisa, registra e veicula, aqui se torna ululante!"
Eu Reconheço Que Sou Um Grosso (Gildo de Freitas)
"A valsa mais famosa de Gildo de Freitas ganha um arranjo blueseiro, que faz jus ao DNA da Estado das Coisas. O solo do Rafa (Schuler) com as tripas na mão, o piano saltitando como um trem movido a carvão fazendo a linha Uruguaiana-Memphis, a pulsação do baixo, a batera botando lenha na caldeira e o coral do povo, como um bando de bebuns guiados pela gaita fundamentalista do Paulinho Cardoso, celebram o aqui e o agora. Este navio a vapor que sobe o Rio Uruguai, invade o Delta do Mississipi como quem amarra os cavalos aí, num obelisco qualquer."
Os Homens de Preto (Paulo Ruschel)
"Ainda não temos nome para o que se transformou este clássico. Vamos chamar de 'AcidChacareira', por enquanto. No Hiperpampa estamos em Montreaux. Diablo Jr. desafia a gravidade e duela com a bateria usando suas boleadeiras. Os homens de preto levando a boiada no Hiperpampa agora são os 'MEN IN BLACK', defendendo a boiada humana dos ataques secretos dos aliens."
Amigo Punk (Frank Jorge)
"Aqui tudo se justifica. Esta não poderia faltar! A banda adora, o público adora. O Musical Saracura já havia andado por estas paragens. A Graforréia já havia intuído um rock de galpão muito antes. Muitos arranjos ainda virão para este clássico. Mas, por enquanto, este é o mais definitivo... Nada é definitivo para sempre no Hiperpampa."
Não Podemos se Entregá pros Home (Humberto Zanatta / Francisco Alves / Francisco Scherer)
"O tanto de inóspito que se torna o ambiente é igual ao tanto de resistência que ele infunde nos organismos. A frase título é tão legitima nestas paragens... Está na voz da natureza. Esteve na voz de Sepé Tiaraju. Está na nossa voz. Nesta faixa, o funk setentista (não o carioca) toma conta do refrão, e o hiperpampa se expande até o Bronx, o Queens e o Harlem."


FONTE: ZERO HORA
POR: LUIZA PIFFERO 

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