Maria Luiza Benitez: Regionalismo nas ondas do rádio
Por Letícia Garcia
Consagrada
como intérprete de canções gaúchas e latino-americanas, Maria Luiza
Benitez, a Malu, também é mestre de cerimônias, historiadora, terapeuta
holística, jornalista, radialista e apresentadora do programa “Nos
quadrantes do Sul”, da Rádio Guaíba. A cantora completa em 2015 seus 45
anos de carreira musical, 46 anos como comunicadora e uma vida inteira
de amor às raízes.
A
influência da cultura latina na música de Malu é clara. “Fui pioneira
em trazer música folclórica aqui ao Rio Grande do Sul”, registra. A
chegada a Porto Alegre, vinda de Bagé, foi em 1976, quando poucas
pessoas andavam de bota, bombacha e pala pela capital. “Todo mundo me
olhava, achando muito estranho. Da mesma forma a música: eu cantava
muita coisa do Atahualpa Yupanqui, o repertório da Mercedes Sosa, que
raríssimas pessoas conheciam”, conta. Numa época em que a discografia
destes cantores não era tão acessível, Malu incorporava o folclore
latino-americano interpretando suas canções. Esse desconhecimento dos
anos 70-80 também estava ligado à repressão do período ditatorial. Malu
lembra a apresentação da cantora argentina Mercedes Sosa no Gigantinho,
em 1980: uma bomba de efeito moral foi detonada para interromper o
concerto, mas Mercedes não se rendeu e continuou a cantar. “Veio gente
de várias partes da América Latina para assisti-la aqui, porque ela era
proibida pela ditadura”, recorda. Atuando como radialista e cantora,
Malu fez parte de um período em que o regionalismo gaúcho começava a se
encontrar, contribuindo para isso com sua voz – seja nos palcos, seja
nas rádios. “A cultura gaúcha é muito rica. Acho que o mais importante
de nós, gaúchos, é que somos apaixonados pela nossa terra. Esse ufanismo
é que faz a cultura se conservar, se expandir, se renovar na figura de
seus herdeiros e descendentes”, observa.
A radialista
Malu
veio à capital para trabalhar com rádio. Sua carreira como radialista
iniciou na cidade natal, em 1969, na Rádio Cultura. Começou a trabalhar
na Rádio Gaúcha quando chegou a Porto Alegre. Alguns meses depois, em
1977, foi para a Guaíba, rádio que ouvia desde a infância, onde ficou
conhecida por programas como “Guaíba mulher”, que comandou por quase 15
anos. Já passou por diversas emissoras, como as rádios Clube, Difusora,
Princesa, Rural e, na televisão, a Difusora (atual Bandeirantes), o SBT e
a TVE. Depois de um tempo afastada da Rádio Guaíba, durante a crise em
que a Caldas Júnior foi vendida nos anos 80, voltou à casa em 2008.
Hoje, aos 63 anos, mantém um programa de folclore, “Nos quadrantes do
Sul”, que começa às 4h da manhã. Adora o trabalho de radialista,
principalmente o contato com o público – conta que tem ouvintes “de
Cacimbinhas a Paris”, graças à internet, que leva sua voz a todos os
cantos. “Dentro do meu programa, rodo muita coisa da parte regional,
para que se conserve, para que não se perca”, assinala. A música, aliás,
entrou muito cedo em sua vida.
A cantora
Já
aos quatro anos, Malu cantava em programas de auditório. Ouvia rádios
locais, além de algumas uruguaias e argentinas, que lhe aproximavam do
folclore latino. De raiz fronteiriça, com mãe uruguaia e avô argentino,
diz que a música latino-americana “está no sangue” – a avó Maria tocava
violão, assim como seu tio Paulo. Nos colégios internos por que passou,
estreitou suas relações com livros e música. A chegada à capital como
radialista também trouxe uma Malu cantora. “Lembro com carinho do meu
início, do apoio que tive aqui em Porto Alegre, através do grande
payador Jayme Caetano Braun e do Noel Guarany, precursor da música
missioneira”, diz. Sua trajetória sempre seguiu a música regional,
ligada às raízes, como gosta de frisar: a aproximação com o nativismo
foi acontecer em Porto Alegre. “Eu expresso em meu trabalho a
conservação das raízes, a propagação da cultura do meu povo,
principalmente dos primitivos, aqueles que habitaram antes de nós. Tenho
muitas canções indígenas no meu repertório, e estou preparando um
trabalho em cima disso”, adianta. Seu mais recente CD, “Ouro azul”, fala
da água – a terra e sua conservação também são suas temáticas. “A minha
música é latino-americana. Então engloba de tudo – tanto música popular
brasileira de raiz como nativismo e música latino-americana”. Com três
CDs gravados, participou de inúmeros festivais de música, conquistando
Melhor Intérprete na 10ª Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana em
1980, com a canção “Pêlo duro”. Mas sua principal atuação neles é como
mestre de cerimônias. Quanto aos festivais atuais, ela acredita que a
música regional, de raiz, poderia ser mais valorizada, e ainda lamenta
algumas situações que presenciou: “Tem havido muita troca de favores”,
considera.
Malu hoje
Atualmente,
Malu desacelerou a carreira de cantora, dedicando-se ao trabalho de
radialista e à graduação em História pela Uniasselvi. Seu trabalho de
conclusão, como não poderia deixar de ser, foi sobre a música regional,
intitulado “As origens da música gaúcha e sua influência na cultura
regional”, que em breve poderá ser lançado em livro. Entre seus projetos
para 2015, uma pós-graduação em História Regional, Étnica e das
Relações Internacionais, no IERGS. Mas não perde a oportunidade de fazer
shows: participou ano passado do festival Uruguay Canta a Orillas del
Yaguarón, no Uruguai, e da Festa Nacional do Chamamé, na Argentina,
cantando para um público de mais de 30 mil pessoas. “Foi muita honra
para mim, a emoção de cantar ali na terra em que nasceram meus antepassados”.
FONTE: JORNALDOMERCADOPOA.COM.BR
Nenhum comentário:
Postar um comentário