O dono do rádio
Gugu Streit
Gugu Streit diz ter herdado dos pais
agricultores a fé que possui e, por isso, costuma agradecer a Deus por
suas conquistas. Antes de atingir o sucesso à frente do programa Comando
Maior, na Rádio Farroupilha, vendeu vassouras, entregou jornais, jogou
futebol e chegou a freqüentar um seminário para seguir carreira
religiosa. Hoje, aos 42 anos, o radialista é o principal destaque da
emissora e, segundo o Ibope, detém 52% da audiência AM na Região
Metropolitana de Porto Alegre – um recorde inimaginável em qualquer
outro mercado do Brasil. Além de carismático, é perfeccionista,
determinado e se revela um torcedor apaixonado pelo Esporte Clube Novo
Hamburgo. Nascido em Taquara, a 20 de setembro de 1966, Gugu teve seu primeiro contato com a comunicação na função de jornaleiro. Com 12 anos, o jovem acordava às 4h para entregar o Correio do Povo nas residências da cidade de Novo Hamburgo e, por alguns anos, sob frio e chuva, desempenhou essa função. Foi numa noite normal de trabalho que, segundo ele, recebeu um sinal que mudaria sua vida: o menino loiro e de olhos claros pedalava sua bicicleta carregada de jornais, quando ouviu uma música quebrando o silêncio da madrugada. Procurou a origem do som e encontrou um pequeno rádio de pilhas na calçada. A partir deste momento, o rádio passou a ser seu companheiro e as jornadas diárias tornaram-se menos frias e silenciosas.
A voz do locutor encantava o menino que, entre a entrega de um jornal e outro, distraía-se com a programação. “Ao sair de casa, ouvia diariamente às 6h uma oração de fé e incentivo. Achava o ato muito bonito e também desejava passar esse sentimento para as pessoas.” A paixão pelo instrumento foi aumentando e surgiu o sonho de tornar-se radialista. Como a família era grande e os pais não tinham condições financeiras de manter a casa sozinhos, Gugu passou a ter responsabilidades ainda na infância: aos oito anos de idade, já morando em Novo Hamburgo, estudava de manhã e à tarde vendia vassouras. Nessa época, o pai trabalhava numa fábrica de caixas de rádios e TVs e a mãe, dona-de-casa, tinha como tarefa cuidar dos nove filhos.
Vocação predestinada
Gugu desconhece a origem do seu apelido e diz que era dessa forma que os pais, os familiares e os amigos o chamavam na infância. O comunicador relutou para aceitar o nome artístico, pois quando conseguiu concretizar o sonho de ser radialista, ingressando na Rádio Progresso, em Novo Hamburgo, já avisou que seria chamado de Sílvio Roberto. “Afinal, esse era meu nome”, explica. Foi o diretor da emissora que decretou que o jovem profissional, a partir de então, seria apenas Gugu Streit. Ele teve que acatar a decisão, a ponto de, oito anos atrás, incluir o ‘Gugu’ em seu registro de nascimento: hoje se chama Sílvio Roberto Gugu Streit.
A determinação foi uma das características que fez com que ele estivesse sempre próximo a um microfone. Ainda na adolescência, nas horas vagas se oferecia para apresentar eventos em colégios e na comunidade. A estratégia deu certo e acabou despertando a atenção dos diretores de uma emissora local. Aos 17 anos, foi convidado pelo gerente Lucindo Amaral para atuar como repórter da unidade móvel da Rádio Progresso, mas nesse cargo permaneceu apenas por duas semanas. “Lucindo achou que eu tinha um pique legal para comandar um programa da tarde”, conta.
Após dois anos, subiria mais um degrau a caminho do sucesso. Mudou-se para Porto Alegre para comandar as tardes da extinta Rádio Capital AM e lá ficou por sete meses. O talento do jovem chamou a atenção do principal comunicador da Farroupilha na época, o atual senador Sérgio Zambiasi, que criou o Comando Maior e apresentava a atração. Ele convidou Gugu para apresentar um programa das 16h às 19h. Os fins de tarde da emissora eram marcados pelo quadro ‘Clubinho do Gugu’, com a participação de crianças. Quando Zambiasi se afastou da RBS, em 2005, para se dedicar inteiramente à vida política, Gugu assumiu definitivamente o microfone do Comando Maior. Não havia novidade aí, já que ele substituía o político no comando da atração desde a década de 1990.
Um defensor
Um estúdio lotado de ouvintes que buscam ajuda ou querem, simplesmente, conhecer a emissora: esse é o ambiente de trabalho do comunicador. Sua sala é repleta de caixas, presentes, imagens sagradas, CDs, rádios antigos, troféus, fotos, certificados nas paredes e uma caneca do período eleitoral com a imagem de Zambiasi, transformada em porta-canetas.
Neste ano, a Farroupilha atingiu uma marca histórica na participação do índice de audiência entre as emissoras AM na Grande Porto Alegre. De acordo com a última pesquisa do Ibope, a rádio detém 52% do share de ouvintes da região metropolitana, índice que confirma sua liderança e registra um recorde inédito desde setembro de 1999. “É uma grande responsabilidade chegar aqui de manhã, dar bom dia e saber que, só na região metropolitana, tem mais de 200 mil pessoas te ouvindo”, diz.
Seguindo os passos de Zambiasi e por acreditar na ideologia do partido, filiou-se ao PTB, mas esclarece: “não pretendo me candidatar e, por enquanto, não tenho planos. Não dá para dizer que dessa água eu não vou beber! Quem sabe um dia...” Propostas nunca faltaram, pois, segundo ele, já recebeu convites de diversos partidos para concorrer aos cargos de vereador e deputado. “Como o Zambiasi é uma pessoa que representa muito na minha vida, por ter me ajudado e me apoiado, resolvi entrar para o partido dele e cessar com esse assédio alheio. Devo o meu sucesso no rádio a ele”, relata. Para o desapontamento de alguns e alegria de muitos ouvintes, Gugu avisa: “Vou atuar nesse meio até quando o público me agüentar”.
Paixão na linha
Como tudo em sua vida, o amor também surgiu relacionado ao rádio. A relação com a empresária Rosi, prestes a completar duas décadas, começou com uma ligação discada para um número errado. “Na época, trabalhava na rádio Capital e uma funcionária da loja da minha esposa ligou para a emissora, mas ligou para o número errado. Eu aproveitei e perguntei se elas acompanhavam nossa programação, afinal, queria audiência. Como elas não eram ouvintes, disse para ligarem o rádio que eu mandaria um ‘Alô’. Mas a dona da loja não acreditava que isso era resultado de uma ligação errada. Depois, liguei para ela perguntando se tinha ouvido meu recado e assim fomos conversando e nos conhecendo, até que um dia a convidei para vir me conhecer e começamos a namorar.”
O casal tem um filho de 16 anos. Ele é Sílvio Roberto Gugu Streit Júnior, conhecido por ‘Guguzinho’. O herdeiro já avisou que não pretende seguir os passos do pai e que será piloto de avião. Estar junto da família, preparar o churrasco de domingo e viajar de carro para a Serra ou para o Litoral são os programas prediletos do comunicador em suas horas vagas. O trabalho é a segunda casa, onde, muitas vezes, acaba passando a maior parte do tempo. O Comando Maior termina às 13h, mas a rotina pode se estender até às 21h, já que também atua como coordenador de Programação da emissora. Os eventos do fim de semana promovidos pela Farroupilha também são comandados pelo profissional, diminuindo o tempo com os familiares.
Para apresentar o programa e manter a sua coluna no Diário Gaúcho, procura estar sempre atualizado sobre a vida dos artistas, as tramas e personagens das novelas e as notícias que estão em destaque nos meios de comunicação. Por isso, estabeleceu uma rotina: ao chegar em casa acompanha as principais novelas e antes de ir dormir, por volta da 1h30, acessa a Internet. Gugu também diz que trabalhar com gente é sua paixão. “Amo ter contato com o público e o estúdio está sempre cheio. Quando não tem muitas pessoas acompanhando o programa, eu me sinto perdido e parece que está faltando alguma coisa. Gosto de interagir com o público e perguntar o que eles pensam sobre determinados assuntos. O ouvinte é o combustível que nos dá vida todos os dias”, define.
Passado e futuro
Antes de decidir ser radialista, Gugu estava em dúvida se seguiria a carreira religiosa ou a futebolística. O futebol sempre esteve presente em sua vida como um hábito cultivado na juventude: era goleiro e chegou a fazer parte da equipe juvenil do Novo Hamburgo, seu time do coração. “As pessoas, às vezes, acham que eu escondo que sou gremista ou colorado, mas eu sou Novo Hamburgo desde pequeno. Acompanho as partidas no estádio e quando não posso ouço pelo rádio mesmo. Também colaboro financeiramente com a direção do clube para construir o estádio.”
Já a vida regrada e religiosa também esteve em seus planos. Por influência de colegas seminaristas, chegou a freqüentar aulas em um seminário durante dois meses. Ele conta assim esta parte de sua vida: “jogava futebol com seminaristas e eles falavam que eu levava jeito para ser padre... então, acreditei nisso! Depois percebi que a minha paixão de verdade era o rádio.”
Gugu ainda não atingiu todos os seus objetivos e revela que seu sonho é comandar um programa de auditório na televisão. “Acho que falta no nosso Estado um programa popular de auditório, onde os artistas pudessem demonstrar sua música e talento”, analisa. O profissional, que com apenas 25 anos recebeu o título Cidadão Honorário de Porto Alegre, afirma que põe amor e dedicação em todas as suas atividades. Ele também faz questão de registrar que o Comando Maior foi eleito pela Alap (Associação Latino-Americana de Agências de Publicidade), no último mês de março, o programa de rádio mais solidário da América Latina. “Isso nos motiva a seguir em frente e mostra que estamos no caminho e que vale a pena estender a mão para outras pessoas. A Farroupilha é uma ponte entre quem necessita e quem pode ajudar”, exemplifica.
O ser humano por trás do personagem que comanda o espetáculo se define como uma pessoa humilde e que respeita o limite dos outros. “Coloco muito amor nas coisas que faço e sou movido pela fé, afinal, Deus é quem coloca as coisas em seu devido lugar. Talvez ele tenha me iluminado para chegar aonde cheguei”, acredita. E acrescenta: “Tudo o que a gente faz com amor dá certo. Costumo dizer que, para toda a grande caminhada, por mais longa que seja, é necessário dar o primeiro passo. Se a gente não der, ficaremos para sempre parados no mesmo lugar! O caminho que temos pela frente pode ser um mar de rosas ou de espinhos... não sabemos. Mas para saber, tem que dar o primeiro passo.”
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