Simplicidade em pessoa
Rosana Orlandi
Em sua própria avaliação, Rosana Orlandi se
apresenta como uma pessoa “extremamente urbana”, mas não deixa de ter
uma afinidade imensa com a cultura gaúcha. Nada fora do comum,
considerando-se que há quase 10 anos é a diretora do programa Galpão
Crioulo, um dos mais bem-sucedidos e antigos programas da RBS TV. “Me
sinto privilegiada, porque trabalho muito e adoro o que faço. Sou
a-pai-xo-na-da pelo meu trabalho. E eu acho que o segredo maior é porque
tudo, na minha vida, eu sempre fiz com muito amor...”, simplifica. Em 29 anos de profissão, 28 foram dedicados à televisão. Simples, leve e constantemente alegre, Rosana acredita que sua habilidade em agregar colegas é outro fator que facilita o trabalho. “Sempre coordenei grupos e sempre trabalhei muito bem com todos. Então isso, pra mim, é prazeroso”, completa, destacando que gosta de trabalhar em equipe e motivar pessoas.
Infância campeira
O trabalho na condução do Galpão Crioulo levou-a a se aproximar cada vez mais da produção cultural, da música e do folclore gaúchos. “Acabei me identificando completamente com isso... Me lembrou uma época da minha infância que eu ia pro campo, veio à tona uma vivência que eu tive com a cultura gaúcha”. Não à toa, descreve o que faz como uma atividade fácil e prazerosa. “Eu adoro o que faço. E quando as gravações são feitas com público, eu me realizo completamente”, acrescenta.
Rosana Araújo Marques Orlandi nasceu em Porto Alegre em 4 de fevereiro de 1957. A relação com o interior está centrada nos períodos de férias: até os 14 anos sempre passou estes momentos na fazenda do avô em Itaqui. Ia em dezembro e voltava só em março. “Eu cresci no meio de uma família grande, em um ambiente de muito amor. A minha casa era sempre cheia de gente, reunião de família e de amigos. Imagina: amigos de seis irmãos?!”, elucida. Rosana era uma menina que ficava em galpão com os peões, ia pra mangueira, andava a cavalo, e convivia com um familião que se reunia às 5h da manhã, para apreciar um bom mate e, no final da tarde, para comer uma inesquecível carne de ovelha.
“E, na realidade, eu adorava aquilo, era bem moleca. Mas eu não tinha idéia que esta fase tinha sido tão importante pra mim, e que teria definido até uma visão de mundo...”, emociona-se ao lembrar. “Fazendo o Galpão Crioulo é que me veio tudo isso e eu senti como foi muito forte em mim... E aí me dei conta de que a linguagem campeira e o tradicionalismo são tão íntimos meus. Hoje considero fundamental a produção da cultura gaúcha, a gente ter um espaço na televisão e tentar preservar este espaço, porque a nossa cultura é extremamente rica”, considera.
Acha que acabou se apaixonando por esta área de trabalho graças ao fato de conviver com pessoas simples e autênticas, por todo este Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E assegura que adora dirigir todo este processo, desde a concepção do programa, roteiro, pré-produção e montagem. “A coordenação desse grupo de pessoas me fascina e me empolga, porque cada um é essencial”, explica.
Jornalismo X entretenimento
Apesar de ter formação em Publicidade e Propaganda pela PUC, sua trajetória foi se direcionando para o Jornalismo, curso que chegou a começar na Ufrgs, mas não concluiu. No início da carreira, em 1980, atuou em agências como a Ampla Mídia e Propaganda, house-agency do supermercado Real, a GND Propaganda e a Publivar. Mas logo, em 1981, ingressou na TVE, como assistente da Diretoria de Programação. Rosana ficou durante 18 anos na emissora, atuando em diferentes funções, como as de assistente de Produção e produtora, até chegar a gerente de Produção.
“Acabei ficando na área da Produção. Naquela época, eu não conseguia me adequar muito na Publicidade. Me encontrei na televisão”, define. Assim, produziu programas como Quizumba, Linha Geral, Pergunte à TVE, Ponto a Ponto, Especiais sobre Porto Alegre, a série "Os Escritores", Meninos de Rua, "Tânia", com a jornalista Tânia Carvalho, Estação Cultura e Radar, este direcionado exclusivamente a jovens. Neste período, recebeu três prêmios (Reportagem e Melhor Programa de TV) da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e um Prêmio Brasil Uirapuru de Bronze – Funtevê.
“Foi batalhado, mas foi razoavelmente tranquilo. As coisas foram dando certo”, conta, a sua maneira despojada e clara. E relata com satisfação que, neste período, acompanhou “muita gente que começou estagiando lá, comigo, e hoje são super-profissionais. É muito legal de ver”. Era 1999 quando a profissional, que se considera bem mais uma jornalista de entretenimento do que publicitária, foi convidada pela RBS TV para dirigir o Galpão Crioulo. Não pensou duas vezes e resolveu aceitar o desafio. “Fazia muito tempo que eu estava na TVE, já tinha feito de tudo lá... Achei que já tinha terminado um ciclo”, explica.
Cinema X televisão
O gosto pelo cinema levou Rosana a reforçar a paixão pela televisão. Na TVE, conviveu e fez parte de um grupo de profissionais que tinha interesse em cinema, como Zé Pedro Goulart, Jorge Furtado, Marcelo Lopes e Ana Azevedo, entre outros. Juntos, além de fazer televisão, desenvolviam trabalhos experimentais. Criaram uma empresa, a Luz Produções, que produzia peças de teatro e cinema – iniciativa que acabou dando origem à Casa de Cinema de Porto Alegre.
Acabou se distanciando da turma em 1985 e 1986, quando foi morar na Inglaterra. Teve ali uma oportunidade de ouro, ao estagiar no departamento de produção da BBC (British Broadcasting Company), na cidade de Birmingham. “Então eu flertei com o cinema, mas foi uma coisa rápida...”, lembra. Na emissora educativa, coordenou, durante muitos anos, a cobertura do Festival de Cinema de Gramado. Hoje, apesar de não fazer parte de nenhuma confraria ou reunião do gênero, Rosana acompanha tudo relacionado ao assunto. “Mas se tu me perguntar o que eu sei fazer, é televisão”, enfatiza.
Também adora a área de documentários, folclore e música regional. Apesar de não ter planos para o futuro, admite que ainda tem muito por fazer. “Acho que outras coisas vão acontecer ainda... pois não posso me acomodar e dizer 'estou realizada'... acho que não. Vou fazer 52 anos e, profissionalmente, ainda tenho estrada pela frente.”
Rotina, família e trabalho
Filha do advogado e jornalista Say Marques, que trabalhou no Diário de Notícias e foi um dos criadores da Feira do Livro de Porto Alegre, Rosana acredita que não foi influenciada pela atividade paterna, já que, quando nasceu, Say Marques já havia deixado a comunicação e dedicava-se à política como vereador. Casada há 26 anos com Paulo Orlandi, que atua na área do comércio exterior, tem dois filhos: Rodrigo, 21, estudante de Gastronomia, e Isadora, 18, que acabou de ingressar no curso de Publicidade.
Passa o dia na RBS TV. A noite é dedicada ao lazer, à família e à casa. Gosta de viajar, tirar fotos e recordar; ir ao cinema, assistir novela e DVDs, ler e ouvir música. Recentemente, realizou um antigo sonho: ver Madonna ao vivo, o que conseguiu no show que a estrela apresentou em Buenos Aires. Também gosta de Beatles e MPB, especialmente Tom Jobim, Caetano Veloso e Rita Lee. Obviamente, aprecia música gaúcha campeira e pop, como a banda Papas da Língua.
Um hobby é passear, todos os dias, de manhã cedo, com seus cachorros: Buddy (da cerveja Budweiser, sim), um fox terrier, e Brahma, uma boxer. Outra atividade é a academia, onde se dedica ao pilates, três vezes por semana. Adora reunir a família e estar com os amigos. Por isso, um bom churrasco, no final de semana, também entra na agenda. “Eu gosto muito de ter gente em volta, gosto dessa vida caseira. Chego em casa, meu marido conserta uma coisa, eu arrumo outra...”, ilustra. Está aprendendo a gostar de cozinhar agora, com o filho.
“Acredito que a gente veio ao mundo pra ser feliz. Então, a minha filosofia é simplificar. Sou otimista, tenho fé, tenho esperança... acho que a gente tem que tentar ser feliz neste plano de vida”, resume. Valores como ser verdadeira, justa e solidária norteiam o dia-a-dia de Rosana. E preza demonstrar os sentimentos, além da troca mútua, que entende como “dar para receber”, para estar sempre rodeada das pessoas que ama.
- FONTE: COLETIVA.NET
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