Múltiplo e singular
Mister Pi
Por Márcia FariasChamar de Mister Pi ou de Everton Cunha? Ele explica: “O Everton Cunha dá ao Mister Pi a vida que ele nunca teve, e o Mister Pi ensina ao Everton Cunha a ética que ele, por ser uma pessoa absolutamente comum, não conseguiria ter, se não fosse a existência desse personagem”. Para ele, o grande comunicador é aquele que ouve mais do que fala. Acredita que a maturidade é a responsável pela forma como se vê: “Antes de uma boa oratória, tenho que ter um belo ouvido”, diz, referindo-se à responsabilidade necessária por ter um microfone na frente. Ainda mais quando se trata de rádio – veículo no qual trilhou seu caminho.
Ele pode ser considerado um cara de excessos: muito alto, muito magro e com uma voz muito marcante. A carreira consolidada o tornou uma das figuras mais conhecidas da Rádio Atlântida, do Grupo RBS. Mesmo sem se imaginar em outra profissão, Mister Pi afirma que não pensa em grandes desafios. Acha ruim ter essa postura, mas garante que fazer o que gosta torna tudo mais fácil. “Encaro de forma muito natural. Tudo faz parte do jogo. Não me sinto desafiado, mas envolvido.”
A idade e o tempo de mercado não são fatores suficientes para limitar o público que o acompanha, afinal, o comunicador é ouvido por uma maioria jovem. No entanto, um homem de 46 anos como ele precisa tomar alguns cuidados: “Não posso ficar um velho ridículo. Nem envelhecido de modo a causar náusea nos outros, nem um velho metido a guri. Cada um tem seu tempo”. É com esta afirmação que Mister Pi faz reflexões sobre o amadurecimento. Para ele, o tempo só tende a colaborar para que tudo melhore. Só tem um aspecto que lhe desagrada, o espelho. Ele explica: “Detesto ver a minha cara no espelho e ver o quanto estou velho. Até porque sou muito mulher, então a vaidade acaba comigo”, revela, aos risos.
Sempre o rádio
Foi a indicação do irmão Jerson que o fez encarar o primeiro teste em rádio. A então Felusp (hoje, Pop Rock) viria a ser a primeira experiência, no início da década de 1990. Neste período, se especializou na área ao concluir o curso de Radialismo, na Fundação Padre Landell de Moura (Feplam). Alguns anos depois, vieram passagens pela Rádio Laser, de Novo Hamburgo, pela 104 FM e pela Universal (hoje, Jovem Pan).
Antes de entrar para a Atlântida, Mister Pi era um assíduo ouvinte da rádio e ouvir um convite para tornar-se comunicador da emissora foi a glória. “Quando recebi a ligação do Tadeu Malta, cheguei em casa transtornado”, recorda, para, em seguida contar que, na primeira vez que entrou no ar, parou na janela da empresa, olhou para “a imensidão do mundo” e agradeceu por aquele momento. “Cheguei em casa e me dei conta que estava realizando um sonho, mesmo sem saber que o sonhava”, lembra.
Os primeiros anos de Atlântida foram cumpridos em Caxias do Sul, como coordenador da rádio. Antes mesmo de voltar para Porto Alegre, sugeriu para a empresa um programa no horário da madrugada, para preencher um espaço até então tomado exclusivamente por música. Ao retornar para a capital gaúcha, ganhou carta branca para apresentar o projeto. Em 1998, surgia o Pijama Show, programa que consagrou o personagem de Everton Cunha e deu origem ao codinome (o jargão era “Mister Pi, de Pijama”). A atração permaneceu neste turno por 12 anos e, há dois, é transmitida das 6h às 8h.
Ouvir mais do que falar
Mister Pi dá atenção especial ao que ouve, mais do que ao que fala, garante. Diz que se mantém atento a críticas, pois, de alguma forma, elas podem ajudar a torná-lo melhor. Ao mesmo tempo, acredita que os elogios fazem bem para qualquer pessoa. Sente-se um privilegiado pela quantidade que recebe e garante que são todos especiais. Aliás, receber um elogio do experiente comunicador Antônio Carlos Niderauer foi um divisor de águas na carreira. A frase estimuladora: “Tu não precisas fazer força alguma para falar, porque tens uma voz única dos últimos tempos no rádio. Basta falar. Faça apenas isso”.
Antes de se tornar um comunicador, há 22 anos, Mister Pi ouvia rádio e se inspirava em alguns profissionais, como Ivan Fritz, Elói Zorzetto, Bira Brasil, Aldo Fontella e Domingos Martins, entre outros. “Cada um deles tinha algo que eu admirava.” Além destes, teve um que lhe deu uma lição, mas a personalidade não é do rádio. Segundo ele, Roberto Carlos faz shows todos os anos e só são bons porque conseguem apresentar sempre a mesma coisa, mas de uma maneira diferente. “Ou seja, aquilo que eu falo no rádio, para mim, pode ser a centésima vez, mas para alguém, em algum lugar, pode ser a primeira. E para esse, a emoção é única, conforme a vida dele”, define.
Fora do comum
Mister Pi é, definitivamente, uma figura singular. E não apenas pela aparência ou pelas brincadeiras, mas pelo que pensa sobre a vida. Rotina, por exemplo, é uma palavra que não consta no vocabulário dele, pois acredita que, quando se determina uma rotina, se vira escravo dela. “O pensamento de que chegou a sexta-feira e que, agora, podemos nos divertir, me incomoda”, explica. Se tiver vontade de tomar sorvete, às 3h da madrugada, no inverno, em um posto qualquer, vai fazer. Por outro lado, reconhece que existem compromissos dos quais não pode fugir, mas, uma vez longe deles, tenta transformar tudo o que faz em atividades legais. Encarar a vida com humor é uma característica de alguém que sempre foi “o palhaço da casa e dos amigos”. Para ele, é natural unir a comunicação com o humor, pois acredita que todo ser humano é múltiplo e não pode ficar preso a um estereótipo. “Vamos rir da vida”, ensina.
Um dos lugares onde consegue expressar todo seu humor é no Pretinho Básico, programa da Atlântida, no qual participa como participações especiais, desde o início do programa. Há três anos entrou para a rotina diária do programa, no horário das 13h (a atração também é transmitida às 18h). É ali que Mister Pi interpreta personagens conhecidos como a imitação ao Cid Moreira e a voz de Cristiano Manueldo, o português.
Não bastasse a trajetória no rádio, o comunicador é especialista em “dar uns gritos por aí”, como gosta de chamar. Ele refere-se ao fato de ser cantor e fazer alguns shows pelo sul do País. Esta é mais uma das realizações, mas confessa: “Eu tinha um péssimo ouvido. Não fazia ideia do que era tom, timbre e etc. Comecei a cantar porque gostava”. O tempo e o convívio com diversos músicos gaúchos levaram-no a aprimorar o dom da voz. “Aprendi com feras. Alemão Ronaldo, Papas da Língua, Cidadão Quem e Nenhum de Nós, por exemplo, me ensinaram muito”, conta.
De herança, a união
O filho do funcionário público Sirlei e da dona de casa Maria Helena é o caçula de três ‘Luiz’: o Jerson Luiz, o Jeferson Luis e o próprio, Everton Luis. A infância, segundo ele, foi muito intensa e, se tem uma palavra que resume o período, esta é amizade. Ter o nome, ou o apelido Neco, gritado por amigos na frente de casa, convidando-o para brincar, é algo que valoriza muito. “Acho fundamental na formação da criança. Alimenta a alma e faz perceber que, naquele momento, é importante para alguém. O pequeno gesto é inesquecível.” A grande herança trazida da família é resumida em apenas um valor: união. Tem certeza que, na vida, não se faz ou se chega a algum lugar sozinho.
Casado pela segunda vez, há dez anos, com Patrícia, Mister Pi tem um filho de nove anos, Ian, e uma de 21, Giuli, fruto do primeiro matrimônio. O maior desafio como pai é conseguir manter os mesmos valores para os dois filhos, mas passá-los de formas diferentes, pois são pessoas únicas e que recebem as mensagens cada um a seu modo. Nunca conseguiu definir bem o que é ser pai, mas uma afirmação de Jonny Deep o fez concordar: “Ele disse que, quando não tinha filhos, era como se enxergasse a vida através de um vidro embaçado. Depois, o vidro desembaçou. Espetacular”.
Tarado por esporte
Ligado à música, Mister Pi não se recusa a ouvir quase nada. Acha que a exigência está muito mais relacionada à idade do que com o fato de viver no mesmo meio. “Preciso ter desprendimento e ouvir as músicas conforme a pretensão delas. É injusto ouvi-las fora do contexto do qual se propõe. Só rejeito o que é mal feito”, resume. Ler é algo que pouco pratica. Brinca dizendo que só leu ‘Coração de onça’, quando era criança, para fazer uma ficha de leitura. Fora isso, o que sempre está na mesa de cabeceira é a Bíblia - livro considerado fantástico. Cinema também não é o forte, ele dorme. Quando resolve arriscar, prefere assistir drama, pois gosta de aprender e crescer com as histórias. Além disso, tem gênero que não se presta a ver. “Terror e ficção, de jeito nenhum. Não tenho motivo para isso. Tenha a santa paciência!”, desabafa.
Gremista, considera-se um “tarado por esportes”, especialmente pelos coletivos. E acredita que este é um aspecto fundamental: “Ele ensina, agrega, dimensiona, desafia. Algo que só o esporte é capaz de fazer. É a maior fotografia da vida no seu cotidiano”. Pratica qualquer um, não de forma disciplinar, mas aceita convite para todas as modalidades, seja natação, futebol, vôlei, handebol, basquete ou corrida.
Além da paixão pelo esporte, o comunicador tem outra característica marcante: “Minha maior mania é tentar deixar de ter manias. Fujo do Transtorno Obsessivo Compulsivo (o chamado TOC)”, confessa. Quase nunca consegue. Por exemplo: sempre faz o mesmo trajeto ao ingressar em um ambiente. Entra pelo lado direito da porta e deixa tudo no mesmo lugar, sempre. “Algumas vezes, isso pode beirar à superstição, já que vem acompanhado de um estalo como ‘já fiz assim e não deu certo’, mas não é sempre assim”, detalha.
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FONTE: SITE COLETIVA.NET
ENTREVISTA FEITA POR MÁRCIA FARIAS
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